Hell On Earth (Stephenie Meyer)

12/12/2009 0 Lembretes .
Um pequeno trecho:



Ela era uma contradição ambulante, e não apenas no que se tratava da sua altura - ela tinha
pele pálida e cabelos pretos como tinta, ambos eram delicados e duros com a sua feição
pequena e afiada, e ambos eram atraentes e repelentes com as ofuscantes ondulações de
seu corpo, sob a expressão hostil de seu rosto.
Apenas uma coisa nela não era ambígua - seu vestido era, sem dúvida, uma obra de arte:
labaredas de fogo em couro deixavam seus ombros nus e abraçavam suas curvas finas até
beijarem o chão. Enquanto ela cruzava o salão de dança, olhos femininos seguiram o
caminho de seu vestido com inveja e os olhos masculinos o seguiram com luxúria.
Havia outro fenômeno que a seguia; enquanto a garota com o vestido ígneo passava pelos
dançarinos, pequenas exclamações de horror e dor e vergonha a cercaram em estranhos
redemoinhos que só podiam ser uma coincidência. Um salto se quebrou, contorcendo o
tornozelo que o estava usando. Um vestido de cetim se rasgou da coxa até a cintura com
um ruído. Uma lente de contato saltou fora e se perdeu no chão sujo. Um sutiã com
enchimento se partiu em dois. Uma carteira pulou de um bolso. Uma câimbra anunciou
uma menstruação que chagava fora de hora. Um colar emprestado se partiu numa chuva de
pérolas pelo chão.
E continuou - pequenos desastres girando em círculos de infelicidade.
A pálida garota escura sorriu para si mesma, como se de alguma forma ela conseguisse
sentir a infelicidade no ar e gostasse disso - sentisse o gosto, talvez, considerando a forma
como ela lambeu os lábios apreciativamente.
E aí ela fez uma careta, enrugando a testa em profunda concentração. O único garoto que
estava observando seu rosto viu um estranho brilho próximo aos lóbulos de suas orelhas,
como pequenas faíscas vermelhas. Todo mundo se virou nesse exato momento para ver
Brody Farrow, que segurou seu próprio braço e gritou de dor; o leve movimento da dança
lenta fez seu ombro se deslocar.
A garota no vestido vermelho sorriu maliciosamente.
Com seus saltos batendo agudamente no chão, ela caminhou corredor abaixo até o
banheiro feminino. Leves gemidos de dor e infelicidade a acompanharam.
Uma multidão de garotas vagavam na frente dos grandes espelhos dentro do banheiro.
Elas tiveram apenas um momento para olhar o vestido arrebatador, para reparar em como
a pequena garota usando-o tremeu brevemente naquele banheiro cheiro, acalorado, antes
que o caos as distraísse. Começou com Emma Roland furando o próprio olho com um
aplicador de rímel. Ela se moveu agitada, acertando o copo cheio de ponche na mão de
Bethany Crandall, que aí encharcou Bethany e deixou outros três vestidos transparentes
em lugares muito inconvenientes. De repente a atmosfera no banheiro ficou mais quente
do que a temperatura, quando uma garota - com uma mancha verde horrorosa no peito -
acusou Bethany de jogar o ponche nela propositalmente.
A garota pálida escura apenas sorriu um pouco para a briga eminente, e depois andou para
a cabine mais distante no longo banheiro e trancou a porta atrás dela.
Ela não usou a privacidade da forma como seria esperado. Ao invés disso - demonstrando
não sentir nenhum medo do clima menos que amigável - a garota inclinou-se e encostou a
testa na parede de metal e fechou os olhos com força. As mãos, fechadas em pequenos
punhos furiosos, também descansaram no metal, como se procurassem suporte.
Se alguma das garotas no banheiro feminino estivesse prestando atenção, elas podiam ter
se perguntado o que estaria causando o brilho vermelho que brilhava fracamente pelo
buraquinho entre a porta e a parede. Mas ninguém estava prestando atenção.
A garota de vestido vermelho apertou os dentes com força. Por entre eles, um jato quente
de chama brilhante saiu e desenhou padrões pretos na fina camada de tinta da parede de
metal. Ela começou a arquejar, lutando com um peso invisível, e o foto queimou com mais
força, dedos grossos de fogo atacando o metal frio. O fogo alcançou seu cabelo, mas não
queimou as mechas macias, negras. Traços de fumaça começaram a escapar de suas
narinas e ouvidos.
Um chuveiro de faíscas saltou de seus ouvidos enquanto ela sussurrava uma palavra
através de seus dentes.


...

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